Gênero e mercado de trabalho
Depois de falar de absorventes e inspirada em comentários do nosso querido professor Shikida, resolvi fazer um post sobre as mulheres e o mercado de trabalho. No domingo passado, o Fantástico mostrou uma matéria em que 50 mil mulheres da Islândia (país menos corrupto do mundo) resolveram reivindicar seus direitos protestando os 30% a mais que os homens ganham. É estranho observar que, num país que teve a primeira presidente eleita democraticamente (1980), as mulheres ainda estejam passando por isso. O governo promete mudanças: conceder certificado de qualidade para as empresas que igualarem os salários de homens e mulheres. Vamos ver no que isso vai dar...
De acordo com uma campanha publicitária divulgada na reportagem há também diferenças nos salários entre as mulheres: as magras ganham 30% a mais que as gordinhas; quem tem cabelos pretos ganha 2% a mais que as loiras e as mais altas também levam vantagem.
Além disso, existe o problema da maternidade, em que as mulheres devem abrir mão do seu tempo para cuidar dos filhotes e por isso param de trabalhar por um tempo ou totalmente em alguns casos. Este artigo mostra o impacto negativo da maternidade sobre a participação das mulheres no mercado de trabalho. Os países mais pobres sofrem mais com isso. Uma solução para que a mulher tenha maior inserção no mercado nestes países seria o maior acesso à creche pelas populações mais carentes. Há aí a falta de políticas públicas.
Apesar dos pesares, o número de mestras ou doutoras cresceu no Brasil de 1996 a 2003 bem mais do que o de homens, segundo pesquisa feita pelo Ministério da Educação e pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. O total de doutoras subiu 104% e de homens subiu 69,2%. O aumento no número de mestras também foi superior: 119,4% ante 106,1%. Porém, a pesquisa deixa clara a desigualdade entre os salários: em 2003 o salário médio de uma mulher com 11 anos ou mais de estudo era de R$ 695,00 e de um homem R$ 1.362,00; entre pessoas sem instrução, mulheres recebiam uma média de R$ 173,00 e homens R$ 265,00. O desemprego também reflete essa desigualdade, sendo que do total 56% são mulheres e 44 % homens (dados de 2004 – IBGE).
A desigualdade também é alta quando se analisa as pesquisas ligadas às Ciências Exatas e da Terra, Ciências Agrárias e Engenharias que ainda são predominantemente realizadas por homens. A diferença chega a quase o dobro. Entre os bolsistas do CNPq em 2004, as mulheres representam aproximadamente 1/5 do total de pesquisadores das Ciências Exatas e da Terra e Engenharias. Isto também é comprovado no curso de economia e nossos coleguinhas sabem disso. Não consegui achar dados específicos sobre o número de alunas no Brasil mas só para ter uma idéia, no XVIII encontro regional dos estudantes de economia do ano passado na UFSC compareceram 504 homens e 258 mulheres. Na USP, o corpo docente de economia é composto por cerca de 80% de homens.
Apesar de enfrentar um dilema entre “ser ou não ser uma economista”, deixo aqui minha homenagem às estudantes e profissionais de economia.
ps: Shikida, acho que não é a toa que nasci no dia 8 de março, dia internacional das mulheres. (Só para lembrar: durante uma greve em 8 de março de 1857, em Nova Iorque, 129 operárias têxteis morreram queimadas lutando pela redução da jornada de trabalho. Os patrões teriam incendiado a fábrica).
2 Comments:
Veja só que absurdo irracional esse: magras ganham mais que obesas e tal. Claro que, para alguns empregos, boa forma física é fundamental. Contudo, no grosso, elas ganham mais por beleza que por competência ou produtividade.
Quanto às ciências exatas, engenharias, etc. É só entrar numa aula de Engenharia (das tradicionais) que você dificilmente enxergará uma mulher. Aliás, o prédio da Eng. Mecânica aqui da UFRGS não tem banheiro feminino (!). E não é porque as mulheres são excluídas ou incapazes. Elas simplesmente parecem não gostar de cursos como esse! Motivos? Não sei, cultura, alguma propensão biológica, enfim. E Economia é uma coisa diferente mesmo: a mais exata das ciências sociais acaba perdendo em mulheres (infelizmente).
Thomas tem um bom ponto. Muito do que se pensa ser discriminação não o é. Daí a dizer que não exista, claro, é outra coisa. Mas este negócio de achar que o mundo deve ser guiado por algum critério de igualdade já é discutível. Mais ainda dizer que o critério deve ser o gênero (sexo).
Mas, pelo visto, este tema não gerou muita discussão aqui.
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