Saturday, October 29, 2005

O velho problema do spread bancário...

Seguindo hoje pela internet, infelizmente encontrei essa notícia no Valor Econômico que fala que mesmo com a Selic caindo, os bancos comerciais não abaixaram as taxas de juros. O argumento varia do lag entre a queda da Selic e o tempo necessário para as taxas cairem até o aumento do juros no cheque especial. A questão é: Há cartel no mercado de bancos de varejo brasileiros ou seria uma situação de concorrência oligopólistica devido a um baixo número de instituições financeiras? Existem argumentos para os dois lados. A Febraban ( seguindo a lógica dos bancos ) afirma que:

"Alguns números mostram como a formação das altas taxas de juros envolve fatores que estão fora do alcance do Setor Financeiro· Por exemplo: basta dividir o lucro do sistema bancário, da ordem de R$20 bilhões, pela carteira de crédito que é superior a R$400 bilhões, para verificarmos que o spread líquido dos bancos é inferior a 5% ao ano"

Pra falar a verdade não sei se pode ser calculado do spread dessa forma, mas acho no mínimo estranho, pois já ouvi dizer inúmeras vezes que o spread bancário brasileiro é o maior do mundo.
A Febraban ainda afirma que no Brasil ocorre o efeito "crowding out", que o governo, com sua dívida, acaba atraindo maior parte do crédito para si mesmo e dificulta o crédito do setor privado. Seguindo essa mesma linha de pensamento José Luís Oreiro e Luiz Fernando de Paula ( Valor Econômico, 12/01/2005 ) argumentam que:

"Portanto, incerteza no ambiente macroeconômico que envolve os bancos é uma importante causa dos elevados spreads no Brasil. Assim, quanto mais instável for a economia do País - por exemplo, quanto maior for a variabilidade da taxa de inflação e da taxa de câmbio – maior deverá ser o spread bancário. Se isto é verdade, então a adoção de políticas macroeconômicas que visem a celeração do crescimento econômico, bem como a redução do nível e da volatilidade da taxa básica de juros poderão ter um efeito positivo no sentido de reduzir os spreads bancários no Brasil. Sem isto, medidas de natureza microeconômica visando a diminuição do spread poderão, mais uma vez, se revelar inócuas."

Do outro lado, há quem diga que o spread é muito alto para a atual conjuntura econômica do Brasil e que é devido as altas taxas de juros + spreads altos que os bancos brasileiros continuam batendo récordes de lucratividade. A nova lei de falências aprovada no início do ano, tem por uma de suas finalidades diminuir o risco do crédito no país. Mas pouco se observa na queda dos juros. O próprio presidente do BNDES, Guido Mantega afirma

"O spread médio que nós praticamos é de 2,5%, e temos os mesmos custos e os mesmos riscos que os bancos privados. Então, eles poderiam trabalhar com taxas de spread menores"

Esta discussão gera todos os tipos de argumentos. O problema é que no final, quem acaba perdendo são as micro empresas e pessoas físicas que não contam com crédito barato para projetos, empreendimentos e mudança intertemporal no consumo.

2 Comments:

Blogger Prof Shikida said...

Minha intuição é que o efeito crowding out é maior que o efeito cartel.

Mas é só minha intuição.

O BCB publica um relatório, acho que anual, sobre spread bancário. E me lembro de uma tese de uma doutoranda da USP, acho que do ano passado, no qual ela mostrava que os bancos públicos (ulálá) eram bons....responsáveis pelo elevado spread.

Mais um argumento para o crowding out, mas com outro mecanismo de transmissão.

6:29 PM  
Anonymous Anonymous said...

Li num artigo uma vez que a imensa dificuldade em executar dívidas também contribuem bastante para este problema dos juros.

8:08 PM  

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