Saturday, October 29, 2005

Enriquecendo a alma e engordando a carteira

Johathan Gruber, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, desenvolveu um estudo relacionando o comparecimento à igrejas e aumento de renda. Os resultados mostram que nos Estados Unidos quando dobramos o número de vezes que freqüentamos cultos religiosos há um aumento de 9,1% na renda do lar. O argumento usado por ele para explicar os resultados é de “os que possuem mais fé podem ser 'menos estressados' a respeito dos problemas do dia-a-dia que impedem o sucesso no mercado de trabalho e no mercado do casamento. Por isso, eles seriam mais bem-sucedidos".

Sua pesquisa afirma que “o comparecimento aos cultos corresponde a níveis mais altos de formação escolar e renda, níveis mais baixos de recorrência ao serviço público de saúde, taxas mais altas de casamento e taxas mais baixas de divórcio”. Gruber separou sua amostra em sete grupos e se concentrou em pessoas brancas, não-hispânicas, com vinte e cinco anos ou mais dado que "há fortes indícios de segregação racial entre os freqüentadores das igrejas”.

Acredito que pessoas que freqüentam igrejas recebem mais estímulos a melhorarem de vida. Um exemplo disso seriam seguidores da Igreja Universal do Reino de Deus (e outras igrejas evangélicas) que devem abolir qualquer espécie de vício. Ao evitar o consumo de bebidas e cigarros, por exemplo, além de elevar a qualidade de vida, sobra mais renda para gastar com outros produtos. Outro argumento seria o de que a pessoa fica mais disciplinada, mais disposta ao trabalho, possui melhores perspectivas sobre o futuro e valoriza mais a família.

Apesar desse aspecto positivo, deve-se levar em conta que, muitas vezes, esta dedicação fervorosa pode implicar em custos. Um exemplo típico seria o pagamento do dízimo na igreja católica. E como hoje é o dia das expectativas aqui no blog, imagino que os benefícios que os fiéis esperam obter com o comparecimento aos cultos são maiores do que os 10% gastos com a igreja. Cabe a eles decidir o número de horas dedicadas à religião que maximize seu bem-estar, dados seus custos.

Para finalizar, gostaria de citar um ponto que não foi abrangido na pesquisa e que diz respeito à particularidade da situação econômica de cada povo. A perspectiva de que terão um lugar no céu, por exemplo, incentiva mais quem vive numa situação pouco privilegiada a buscar o que a religião lhe oferece. E de acordo com uma frase do nosso diretor VanDyck: “é barato acreditar em Deus”.
A reportagem foi retirada do Portal Terra, no dia 25 de outubro.

12 Comments:

Blogger Prof Shikida said...

"Church as a corporation that marketed and 'sold' a set of identifiable 'products' in a rational, cost-conscious, 'profit'-maximizing manner". [Ekelund et alii (1996). Sacred Trust - The Medieval Church as an Economic Firm, Oxford Univ. Press]

Camilla, novamente, explorando temas interessantes. [http://gunston.doit.gmu.edu/liannacc/ERel/]

Talvez goste também deste endereço. Um dos meuso orientandos terminou por usar um bom texto sobre a oferta de mártires (a demanda é fácil: governantes].

Entretanto, não tenho - pessoalmente - tão claro que participar de um culto torna as pessoas melhores. Barro diz isto, você tocou no assunto, meu colega e amigo Sérgio pensa assim também (eu acho), mas eu sempre tenho em mente terroristas religiosos.

Ok, gostei do tema. Pena que não seguiu com o outro, mas não decepcionou. :-)

9:48 PM  
Blogger Thomas H. Kang said...

De fato, pessoas viciadas que passam a freqüentar as chamadas igrejas neo-pentecostais acabam gastando 50% de sua renda com a igreja ao invés de gastar 80% em vícios. Ou seja, embora os custos sejam altos, os benefícios compensam. É claro que os dados aí são apenas exageros.

Quanto a terroristas religiosos, se entendi o que o prof. Shikida quis dizer com isso, não me parece algo muito comum no Brasil. E, mesmo no mundo cristão, são exceções: a maioria dos pastores/padres não são terroristas. Então, na maioria das vezes, acho que pode-se afirmar que a religião melhora a vida das pessoas. Até porque resolve, pelo menos parcialmente, o problema existencial delas: e isso é um baita benefício.

É evidente que a religião pode causar alguns problemas, principalmente nas mais legalistas: intolerância, fundamentalismo, moralismo "barato", manipulação de massas. Mas, ainda assim, faz bem pras pessoas individualmente e, em certa medida, coletivamente também.

12:03 PM  
Blogger Prof Shikida said...

Caro thomas,

no mestrado conheci um cara. O pai ele é psiquiatra ou algo assim. Disse-me que, para muitos casos, religião é realmente uma tábua.

Aliás, tenho um conhecido que só não enlouqueceu (mesmo) por causa de seu apego à fé.

Enfim...

1:33 PM  
Blogger Prof Shikida said...

quanto ao terrorismo e fanatismo, procure o texto "the market for martyrs" de Iannaconne. é sobre isto que falo.

5:16 PM  
Anonymous Anonymous said...

Um outro aspecto não considerado (ou não citado) é o fato de que existe um estímulo à compra de produtos e serviços entre os fiéis numa espécie, mal comparando, de network marketing visto haver tambem um estreitamento dos laços pessoais durante os cultos. (irmão compra de irmão, irmão vota em irmão e por aí vai...). Quanto ao terrorismo e fanatismo este é um tema realmente explosivo, com perdão ao trocadilho, pois a eliminação física de "infiéis" tem sido prática recorrente quando uma entidade religiosa atinge supremacia sobre as demais em determinados períodos e regiões.

2:41 AM  
Blogger Thomas H. Kang said...

aquela frase clichê: "O poder corrompe".

Talvez mais do que o fato de ser religiosa ou não, qualquer instituição com poder demasiado acaba abusando dele.

1:58 PM  
Blogger Prof Shikida said...

e se vocÊ pesquisar na internet, em artigos acadêmicos, encontrará mais resultados contra ou a favor o seu ponto.

11:42 AM  
Blogger Prof Shikida said...

Ok, todos ponderando. acho que eu mesmo disse "comprovar", caí no erro laico. o bom é "não refutar".

Valha-me, São Popper!

Sobre Clara, sim, sim, no limite estamos, né? no limite. é fato que nem sempre economistas modelam estas coisas (por que a Clara sempre comenta a Camilla....movimento feminista anti-homens da sala? hummmmmmm). Mas também é fato que já tem gente (obviamente mais competente que eu) modelando ou/e checando cultura e ideologia em economia.

é uma área de fronteira. um belo convite, claramente falando, para monografias. (sutil, não?)

falando nisto, o projeto de pesquisa vem aí, né? Depois de deixar o exemplo em sala, já devem estar caminhando com eles. espero.

4:03 PM  
Blogger Thomas H. Kang said...

Quanto a cultura e ideologia em economia, escolas heterodoxas sempre levaram em consideração, embora não com modelagens e tal.
Além disso, Bhagwati é outro cara que fala desse assunto dentro do "mainstream".

Afinal, um paradigma (valendo-me de Kuhn) precisa ser flexível o suficiente para aceitar algumas das críticas das escolas menores, que vão sendo incorporados ao "mainstream". Exemplo clássico? Instituições: Lista já falava disso, a Escola Histórica gritou isso e Veblen (o institucionalista de fato) ironizava o homo economicus maximizador. E hoje, a Nova Economia Institucional é parte do "mainstream", embora seja muito diferente de suas raízes originais.

Portanto, quanto a checar ideologia e cultura, muita gente já fez. O passo de fronteira é modelar isso sem ferir os pressupostos básicos do "mainstream". Espero refutações, conselhos, críticas, etc...

PS: Claramente, eu sou herético: nem ortodoxo nem heterodoxo, mas é por pouco conhecimento mesmo.

10:37 PM  
Blogger Thomas H. Kang said...

ops, errata:
List já falava disso...

10:39 PM  
Anonymous Anonymous said...

http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI735295-EI294,00.html
Disturbios religiosos dá cadeia

9:02 AM  
Blogger Prof Shikida said...

clara,

estamos no limite porque este é um border da pesquisa, área de fronteira.

Acho que o Thomas falou com propriedade sobre o tema.

Camilla e Clara: é, quero ver se não existe mesmo disputa "luluzinha x bolinha" aqui. he he he. ainda não estou convencido.

Agora, estou mesmo é curioso para ver que projetos de pesquisa terei para avaliar no final do semestre: a qualidade, originalidade, o português, etc. Se o pessoal souber aproveitar da imensa oportunidade de auto-desenvolvimento que é este blog, vai se dar bem.

Já vejo uma - muito tímida - tentativa de incrementar os posts com alguma autoridade acadêmica. Ainda há posts pouco pensados, pouco trabalhados e, ao mesmo tempo, posts que estão "saindo do armário" e, aos poucos, alguns estão, acho, descobrindo-se em temas os mais diversos.

Tenho notado também que as melhores explicações parecem aparecer onde os assuntos nem sempre são usuais. Mesmo assim, ainda estamos no começo. Não temos duas semanas ainda. Vamos ver até onde cada um é capaz de ir. O desafio é: "ser aluno do ibmec é sinônimo de excelência"? Não. Assim como ser filho do Barão de Cocais não é sinônimo de nobreza. Agora, claro, com a habilidade desenvolvida pela aplicação criativa e logicamente coerente da teoria, qualquer um pode ser bom economista e postar coisas bacanas. Até eu consigo.

Otimismo, Clara e Camilla? Acho que sim. Moderado, mas ainda otimista. E vocÊs?

Abs

Claudio

11:46 AM  

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